terça-feira, 15 de abril de 2008

Mar de outono, por Heloiza Castro


Era uma tarde fria. Nas ruas, os poucos passantes que ainda se via, estavam apressados para chegar aos seus lares depois de um dia de trabalho. No céu, as nuvens se tornavam mais baixas a cada instante, e o sol sumia timidamente no horizonte, avermelhado se misturando com o azul sombrio do oceano.
Sentada no cais, uma menina: em média onze anos, magra, pequena, nada de exuberante para quem a visse de longe. Olhava o mar e sorria vagamente, porém, um sorriso significativo. Seu olhar era distante, mas havia nele um brilho de felicidade. Às vezes respirava fundo, tragando com prazer o vento frio e sublime que também lhe entrelaçava os cabelos; fechava os olhos jogando a cabeça para trás, fazendo com que seu corpo ficasse ainda mais leve, deixando clara a impressão de que sonhava um sonho tão maravilhoso, que um mortal não poderia supor.
Estava distraída, como se sua alma não estivesse ali. Apenas sorria o sorriso de uma musa que inspira o poeta e o pintor. Mas, naquele momento era ela que era inspirada pelo vento que soprava do mar. Não a incomodavam o frio e o estado de quase deserto em que se encontrava a cidade. O que ela queria, era sentir a magia desta estação que encanta e que leva o homem, tão dono de si, forte, altivo e auto-suficiente a refletir sobre sua frágil condição.
É! Realmente ela não estava ali.
Seus pensamentos voavam, iam longe, ou talvez não pensasse em nada. Apenas sofria a dor prazerosa de ser tão pequena diante de um mar de outono.
Enfim, veio a chuva, mas ela não desanimou. Agora bailava descalça na areia molhada, com os braços abertos, rosto para cima, sentindo os suaves pingos que caíam incertos.
Alguém se aproximou com repreensão lhe trazendo de volta à realidade.
Ela respondeu com delicadeza:
- Há quanto tempo você não olha uma estrela? Ou não sente o vento em seu cabelo?
Como não obteve resposta, ela continuou:
- Aproveite que estamos no outono e, ainda embriagados pela Páscoa, perceba o quanto somos passageiros desta vida breve. Deixe seus “grandes” problemas para trás e feche os olhos. Por que você não pode voltar a ter onze anos apenas por um instante?
A pessoa refletiu e meneou a cabeça preocupada.
Ela continuou:
- Não podemos deixar para depois. O que a natureza está nos dando é agora! Depois será inverno e ninguém sabe se irá sobreviver.


Heloiza de Castro da Costa
26 de março de 2008

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Felicidade - Alegria - Prosperidade - Fé - Otimismo - Harmonia - Paz - Amor - Qualidade de Vida :) Casada com Thiago, mãe do Rafael, sou MONIQUE COSTA GARDINGO LACERDA mgardingo@gmail.com FORMAÇÃO ACADÊMICA: Graduação em Comunicação Social - Jornalismo. Pós-graduações lato-sensu: 1.Administração e Marketing. Gestão Estratégica, 2.Comunicação, Marketing e RH;

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