por Altamir Soares*
Imergir no universo do artista é perigoso tal é a individualidade de cada um. Portanto, nesta matéria, me limitarei a falar epidermicamente, do trabalho de Ady Resende, a meu ver, um ícone de minha geração... e falar de nossos ídolos é complicado, temerário.
Quantos ao longo do tempo que passamos por sua sala de aula e guardamos em nós, graças ao seu dedicado trabalho de educador, os conhecimentos sobre artes.
Ady andou sumido, por opção pessoal, mas agora vem agora com uma mostra de seus trabalhos. A exposição teve início em agosto e vai até meados de setembro no Instituto Francisca de Souza Peixoto. Pena que não tenha trazido a lume seus trabalhos inéditos.
Ady Resende me lembra os Impressionistas, com suas lutas e desavenças, suas diferenças entre si e com a sociedade; Ady me lembra Camille Pissaro - um senhor de certa idade e de conhecimento artístico fecundo que todos reconheciam - sempre pronto a atender os amigos Monet, Cezzane, entre outros. Com Ady não é diferente: quando o assunto é arte, há sempre de sua parte a disposição para uma boa prosa!
Um homem simples no seu mundo, dono de pinceladas bem acabadas, com destaque para a preocupação impar com as cores. “Os artistas hoje não querem mais misturar as tintas”, observa. Isso demonstra conhecimento, palavra de quem descarta os modismos e acredita em si mesmo como criador.
Uma das características do Impressionismo é a busca do belo, mas, nas telas de Ady predomina o mistério deixado ali propositalmente, revelando a influência do Surrealismo (o sonho, o irreal de Breton ou Dali). Nosso artista não fecha as portas de sua criação nem mesmo para o expressionismo (Munch com sua solidão) quando pinta figuras desfiguradas, alongadas, enigmáticas, solitárias, numa busca desigual dentro de si: um mundo real ou não, podendo ser da figura, do quadro como um todo ou do próprio artista. O importante é que a obra faz com que o espectador observe toda a estranheza no olhar, sem fugir de si mesmo e pense, pense muito. O mais interessante é que as telas do mestre são construídas com a delicadeza das cores em pinceladas sutis, sobre temas que enlevam e fazem-nos mais humanos.
Conhecendo as obras de Ady Resende, com certeza você também irá conhecer o homem contido em cada figura, em cada cena descrita pela forma, cor, e pelos pensamentos ali traduzidos. Como bem diz o nosso professor: “numa obra tudo tem que estar no lugar certo, mas deixando transparecer sempre o mistério das coisas, do mundo, para não perder a graça, o nome de arte.” Assim é Ady Resende.
*autor Altamir Soares (professor de arte, artista plastico)
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